quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Vão-se os anéis, ficam-se os dedos. 06 Setembro 2012 Sou do tempo das camisetas do partido que mostravam a paixão pela sua construção. É, tinha uma do tijolinho... tijolinhos construindo o PT... e eu era um deles, me sentia um deles. O encontro do PT de 1987 chegou ao entendimento que deveria evoluir: as transformações estruturais deveriam ser concebidas dentro de uma estratégia que combinasse lutas sociais, conquistas eleitorais e construção de novos modelos para a gestão pública. Olhando para trás percebo que paramos de construí-lo exatamente em 1987, quando optamos por entrar no sistemão. Não que tenha sido uma decisão ruim por si só e que devêssemos continuar só jogando pedras e levando pedregulhos na cabeça. Não. O problema é que entramos no sistemão sem táticas ou estratégias para combatê-lo por dentro. Entramos para competir dentro das regras do jogo, dele.

 Achávamos que sabíamos de todos os lances sujos... achávamos que iríamos combater o bom combate e que bastariam pra isso nossos ideais, bandeiras e disposição. Por algum tempo, talvez, isso tenha bastado ou nos bastado. No entanto, de cara, as primeiras baixas: os sindicatos. Passamos de “todos unidos contra o patrão” para “vamos encher o auditório com o nosso povo por que o compa fulano não pode sair candidato, eu que vou sair.”, sendo esta última, algumas vezes, um reflexo das disputas de correntes internas do partido e muitas vezes não. Somente fisiologismo ou oportunismo, aflorados pelo piscar das luzes eleitorais. Afinal, ser militante, levando porrada do patrão, da polícia, com salário congelado e sem perspectiva profissional, não é pra qualquer um, não é mesmo? E começou o vale-tudo.


 O que nos manteve unidos durante um tempo foi mesmo Lula. Sua candidatura, a cara do PT, do nosso PT, daquele PT, o do tijolinho. Lula e PT que massacrados pela mídia partidária só puderam reagir lutando mais. E Lula deu o exemplo: não quis mais ser deputado. Disse claramente que ali não tinha visibilidade e nem conseguia que os trabalhadores o ouvissem e ouvissem as propostas do Partido. E foi pras portas das fábricas. Mas mesmo aí já ficava claro que pelas nossas regras não ia não. Que o jogo era bruto, que mudanças no capitalismo e em suas forças, refletidas no neoliberalismo e na globalização estavam colocando e tirando peças, aqui e acolá, manipulando e jogando. E nós, querendo entrar e jogar. Bem, continuamos batalhando, alimentando lutas sociais, conseguindo algumas conquistas eleitorais e propondo a construção de novos modelos para a gestão pública, denunciando sempre as mazelas do deus mercado.

 Muita coisa boa mas, com um único foco, o eleitoral. E continuamos indo ás ruas, com bandeiras vermelhas, camisetas vermelhas, botons no peito, faixas, palavras de ordem e canções, cumprindo a nossa parte, o nosso lado da história. Lula foi eleito, nossa bancada cresceu, nossos projetos começaram a ser aplaudidos interna e externamente, e, como dizem na brincadeira da internet, todos comemora. Mas espera aí. Está faltando um pedaço, um pedaço grande da história. E as regras do jogo do sistemão? Os bastidores. Os bastidores que não foram feitos por nós, nós das bandeiras vermelhas nas ruas, das camisetas vermelhas, dos botons no peito, das faixas, das palavras de ordem e canções. Os bastidores, sem os quais Lula não teria sido eleito, nem nossa bancada, nem nossos governadores e prefeitos; os bastidores sem os quais nossos projetos não teriam visibilidade... Estes bastidores, os do “jogo” do sistemão foram jogados. Por quem? Eu digo por quem: por companheiros como José Dirceu, José Genoíno, João Paulo Cunha, Delúbio Soares, Luis Gushiken e outros. 

 José Dirceu, então, tornou-se o inimigo público número 1 dos donos do jogo do sistemão. Até por que, para chegar em Lula, só passando por cima dele. E eu me pergunto, onde estão as bandeiras vermelhas, as camisetas vermelhas, os botons no peito, as faixas, as palavras de ordem e canções, para defender e proteger estes companheiros? Não foram e não são também tijolinhos? Percebo, na militância próxima de mim, que existe uma espécie de entendimento velado de que é melhor irem-se os anéis e ficarem os dedos. Um silêncio que traduz palavras como: “Não fiz parte disso. Eles que se virem. Quero é eleger meu candidato. Eles vão e o PT fica”. Não, não fica não. Seremos os próximos. PT, Lula, Dilma, nossos projetos... A continuar desta forma injusta o abandono dos nossos companheiros, perderemos tudo, os anéis e também os dedos. Este é o objetivo deles. Perderemos para a direita, para a mídia, para o capitalismo. Eles comemoram. 

 Texto: Lúcia Maria Rodrigues

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