quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O julgamento do mensalão virou um circo.

(Por Eloir Dreyer) O julgamento do mensalão virou um circo. 
O que interessava, mesmo, que ficasse explicado já sabemos que não será, a saber: se houve, ou não, pagamento mensal por parte do governo para integrantes da base aliada votarem a favor dos projetos do governo na câmara. O tal fatiamento (eu chamaria de esquartejamento) proposto pelo ministro relator Joaquim Barbosa embaralhou fatos e personagens e impediu uma análise mais clara dos fatos. Em suma, de agora pra frente o tal mensalão passa a ter existido mesmo, independente de todos os indícios indicarem a prática de caixa-2.

 Vão me chamar de governista, defensor de bandidos, o escambau, mas enfim, minha teoria se embasa em leituras diversas feitas desde a época em que o escândalo eclodiu e que já no início tinha em seu protagonista (Roberto Jefferson) todas as indicações de que se tratava de uma tentativa de desestabilização do governo Lula. Ocorre que, como todas as pedras de Brasília sabem, o crime de caixa-2 é prática constante em todos os partidos. Não escapa um. Roberto Jefferson sabia muito bem que o PT tinha cometido seus delitos, entretanto se manteria em silêncio caso ninguém o importunasse em seu esquema de corrupção montado nos correios. Aconteceu que a casa do Jefferson caiu e ele saiu atirando para todos os lados, para a felicidade geral da grande imprensa que adotou, desde o primeiro momento as acusações do bandido como verdadeiras e jamais deu chance para qualquer contraditório. 


 A armação do escândalo se deu de maneira bastante simples. A fórmula básica do fato/ fábula. Pega-se algo que de fato ocorreu: saques de dinheiro para pagamento de campanha e acusa-se o que achar mais apropriado, no caso, o tal mensalão. A imprensa se encarregou de fazer o resto seguindo a infalível técnica de Goebbels que consiste na repetição exaustiva de uma tese. Independente de sua veracidade, a possibilidade de negá-la acaba se tornando impossível. A defesa primeira a respeito do absurdo da acusação de pagamento mensal a parlamentares da base nem se deve ao fato de estes parlamentares serem... da base, mas sim o fato de que tal prática (pagamento mensal para mais de 200 pessoas) se configuraria no crime com mais rastros em toda história da república.

 Essa ideia de que as provas são difíceis de se coletar, alegada pelo procurador geral é uma piada quando se trata de argumentar semelhante acusação. Não haveria dificuldades nesse caso, dada a proporção do esquema, isto é, claro, caso este tivesse mesmo existido. Outro fato elementar que qualquer marinheiro de primeira viagem no mundo da política sabe - afinal, vivemos num regime presidencialista de coalizão, que demanda apoio, em nome da chamada governabilidade - é o de que VOTO DE PARLAMENTARES NÃO SE COMPRA COM PAGAMENTO MENSAL, MAS SIM, COM CARGOS.

 O PT, assim como qualquer outro partido de qualquer município brasileiro fez o que manda a cartilha: chamou os líderes de partido pra conversa e distribuiu cargos em troca de apoio. É evidente que não se trata de uma prática louvável, mas vai lá um herói querer contrariar velhos caciques para ver o que acontece. É de se admirar também como de um momento para outro nossa imprensa, sempre tão tolerante com casos de corrupção, de repente se torna preocupada em lavar a alma do país para defenestrar os corruptos da pátria. Ora, é preciso ser muito ingênuo para acreditar nisso e é evidente que a intenção é a de condenar os "de lá" para proteger os "de cá", para, se possível voltar com seus representantes ao poder central. Grandes coronéis, representantes dos maiores atos de banditismo do Brasil, como ACM, jamais foram importunados pela imprensa mesmo quando TODOS os jornalistas do país soubessem muito bem de quem se tratava. 

Sarney só foi torpedeado depois de se aliar a Lula, mesmo sendo outro dos grandes responsáveis pelo atraso do país, e não seria, caso se mantivesse na oposição, quando até poderia ser tido como herói. A imprensa brasileira está nas mãos de dez famílias que controlam o que eu e vocês devemos pensar. a grande preocupação dessa imprensa é a de manter os benefícios dos poucos privilegiados e fazer com que os demais aceitem sua condição e pensem como se fossem da elite. O que incomoda essa gente no caso de Lula é o fato de este ter conseguido, pela primeira vez na história do país, diminuir a desigualdade social - ainda que timidamente. A diminuição da desigualdade social representa escassez de mão de obra, maior dificuldade em explorar e - gradativamente - a formação de uma massa de pessoas que conseguem acesso a outras fontes de informação e se tornam capazes de exercitar um pensamento mais crítico. Essas dez famílias sempre vão fazer o que puder para tirar do poder qualquer um que represente os interesses dos desfavorecidos. 

A ideia é sempre manter um representante alinhado com países como os EUA e suas grandes corporações (sei do clichê) e adotar a velha tese do "as coisas são assim mesmo", que é quase uma bandeira de partidos como o DEM e PSDB. O julgamento do mensalão não é portanto, um clamor de justiça por parte da imprensa, mas, sim, o julgamento de um modelo político. Fosse este modelo alinhado com as preferências das classes privilegiadas e certamente não haveria sequer processo. Esperemos que o tiro saia pela culatra e que após este circo armado no STF, o povo comece de fato a cobrar intervenções contra os bandidos do colarinho branco e que possamos ver também em pauta nos tribunais casos escabrosos como o processo de privatização ocorrido nos anos 90, que entregou de bandeja o patrimônio nacional em esquemas muito mais nebulosos e caudalosos de provas do que o famigerado mensalão. A meu ver, portanto, a última coisa que estamos assistindo nesse teatro chamado mensalão é o estabelecimento da justiça. Mesmo porque não pode haver meia justiça - aquela que favorece os daqui para enforcar os dali. Toda vez que isso acontecer o que testemunharemos é o cometimento injustiças ainda maiores. [escrevi numa tacada, não vou revisar, perdoem os erros]

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